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terça-feira, 1 de dezembro de 2015

O poeta transforma
o desconforto em canção
O sentimento em oração
O viver em poesia
Cada história vira um conto
Cada encontro aumenta um ponto
Cada verso é travessia
Um poema começa
O outro esvazia
Iza Abreu

domingo, 29 de novembro de 2015

Vai

Chegaram sem se falar
se viram
se aproximaram
se agarraram
Entre os dois a certeza de uma estranha intimidade
Encontro, explosão
Beijos, línguas, coração
Desejo e olhar
Vai olhar.... no espelho e não se ver
Ele vai olhando pra outro lado, vai ficando descuidado
Ela vai se despedindo, vai partindo
Sem particípio, tudo vai virando passado
Vai passando
Passa
Passará
O pássaro vai
O pássaro voa

Izamara Abreu

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Adeus, de novo

Hoje foi ela quem partiu, aos 95 anos.
 Foi como uma estrelinha que vai se apagando devagar
Conservou seu cabelo negro, nunca pintado, até o fim de seus dias.
Quando criança, eu chegava em sua casa e a via pentear o enorme cabelo, para, por fim, prendê-lo em um coque. Enquanto isso ouvia comentarem que meu cabelo era igual ao dela, até uma tal mecha vermelha.
A comparação me enchia de orgulho.
Foi essse mesmo cabelos que me lembrava tudo que herdei dela. O cabelo, as formas do corpo, o gosto por doces, e a melhor das heranças: a fé inabalável em Deus.
Ela também está viva em mim, assim como meus pais.
E estarão sempre vivas as lembranças do seu olhar amoroso e tranquilo, do sorrisinho doce que nem o café que ela fazia.
Foi ela quem deixou minha infância com gostinho de doce de batata doce com cháfé e bolinhos.
Obrigada, vózinha.
Izamara Abreu

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

A morte me jogou na cara a transitoriedade da vida.
Na quarta falei com minha mãe, na quinta, um corpo frio ocupava meu abraço.
No domingo mostrei videos bobos e fiz meu pai rir, na segunda assisti seu corpo se contorcer com a última respiração.
A experiência da vida, pelo menos da minha, é o eterno chegar, compartilhar e dizer adeus. Sucessivas chegadas e partidas.
Eu mesma já morri diversas vezes na vida.
Morri com minha mãe, morri com meu pai.
Morri quando o romance não deu certo.
Minhas mortes me ensinaram a soltar, a fluir e a ficar mais perto de mim.
Me ensinaram também que o amor é o único sentido da vida, mas ele não te garante a presença física.
Seja quem for que estiver ao seu lado, um dia você vai ter que dizer adeus, inevitavelmente.
Então, por que não ser mais leve?
Ontem minha amiga Katerin disse que eu era a pessoa mais querida, mas também mais livre que ela conheceu em muito tempo.
Acho que deve ser por isso: eu sei que tudo vai passar. Tudo vai passar.

Izamara Abreu 

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Preferi não sofrer e isso é quase possível, pois as lembranças são tão felizes que muitas vezes secam as lágrimas.
Eu queria não sentir medo, mas o medo é o que volta e meia me pega de jeito
Tenho medo do vazio dos dias
Do telefone que não toca mais
Da saudade
Do silêncio
Sua voz tinha um timbre peculiar, engraçado e sério ao mesmo tempo, temo a falta que se aproxima...
Ausência da voz e de suas falas. Daquele riso bobo e do sorriso "segurado", típico de quem tá aprontando.
Ainda me sinto meio sem rumo, meio sem lugar no mundo. Às vezes sinto como se eu precisasse renascer, como se minhas referências tivessem partido e se partido de vez.
Sinto que minhas paredes caíram e eu preciso me reconstruir, de novo, de novo e de novo
Quem será que eu vou  me tornar? Parece que agora, só agora, sou adulta.
O sentimento de solidão é palpável, pulsante.
aquele colo que acalentava meu coração, sem nem mesmo saber, não tem mais
Aquele refúgio onde o amor não tinha dúvidas, não tinha medo, onde o amor corria livre, se mudou
Acho que sinto mesmo falta de receber aquele amor certo
O amor persiste, perdura e ultrapassa as barreiras da existência, nos une à distância. Mas ainda é preciso reajuste,  compreensão. O endereço mudou. Onde vou te encontrar agora?  Em que parte de mim você veio morar?
Depois que o vácuo passar, eu sei, estaremos juntos sempre. Mas até lá, ainda te procuro
Izamara Abreu

sábado, 31 de janeiro de 2015

Eu engordei 10kg nos últimos 2 anos.
Sempre fui uma pessoa ativa, que amava me exercitar, que se alimentava de maneira saudável, que se cuidava pela vaidade e pela saúde
Aconteceu sem que eu percebesse, eu perdi a vontade de ir correr, de ir pra academia, comia tudo que queria, bebia tudo que me desse vontade, o quanto quisesse
Não sou de me conformar com os que as explicações do "é assim mesmo". Falam que a idade faz isso, falam que a genética faz isso (olha para a mãe, etc).
Não, eu sou uma pessoa com minha própria identidade e o que é verdade para o outro pode não ser a minha verdade. Eu posso construir minha própria realidade.
Comecei a fazer dieta e nada adiantava, eu passava fome e o resultado era pífio. Isso desanima!
Comecei a investigar, fui a medicos, endocrinologistas, meu corpo estava bem, algumas taxas a serem ajustadas, mas tava bem. Nada que justificasse o metabolismo tão lento, a inércia, a falta de vontade.
Comecei a investigar o emocional e percebi a variedade de fatores que envolviam o processo.
Um deles era a conexão inconsciente que fiz com minha mãe, depois que ela morreu. Adotar um comportamento parecido, escolhas parecidas, talvez trouxessem ela pra mais perto de mim, como se eu tivesse "incorporado" a personalidade dela.

Outro fator foi a vontade de encontrar um amor verdadeiro. Alguém que pudesse me amar além do meu corpo. Mas isso gerou um paradoxo, como eu poderia querer que alguém me amasse se eu mesma não me amava com os quilinhos extras. Eu nem mesmo poderia acreditar que isso fosse possível.
Eu queria alguém que fizesse o trabalho que eu não era capaz de fazer por mim,
que pudesse me amar pelo grande amor que levo no coração, pela minha generosidade, pela guerreira que eu sou, pela parceira de todos momentos que eu sou.
A beleza vai acabar, o corpo bonito vai enrugar. A pele vai sucumbir. Mas o brilho nos olhos e a beleza da alma limpa, leve e cheia de vida, isso é eterno. Eu finalmente aprendi.

Eu ganhei consciência dos meus mecanismos de identificação com minha mãe, de defesa contra relacionamentos descartáveis e superficiais, de não aceitação da fugacidade do meu corpo e agora posso escolher fazer de outra forma. Já emagreci 3 kg, sem dieta.
Quanto ao amor, eu vou terminar com um conselho para quem quer um amor lindo. É preciso ir além do corpo. É preciso ver a alma. É preciso tocar o coração e deixar ser tocado. Caso contrário a vida amorosa será um castelo de ilusões, onde príncipe e princesa vivem infelizes para sempre.