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quarta-feira, 29 de agosto de 2012


    "Toda a vida é feita de polaridades: positivo e negativo, nascimento e morte, homem e mulher, dia e noite, verão e inverno. Toda a vida consiste em opostos polares. Mas esses opostos não são apenas polares, são também complementares. Eles se ajudam um ao outro, dão apoio um ao outro.
    Eles são como tijolos que formam uma arcada. Os tijolos de uma arcada têm que ser colocados uns contra os outros. Parecem estar um contra o outro, mas é por meio da oposição deles que a arcada é construída, que ela permanece firme. A resistência da arcada depende da polaridade dos tijolos colocados em oposição uns aos outros. 
    
Esta é a polaridade máxima: meditação significa a arte de estar sozinho e amor significa a arte de estar junto. A pessoa completa é aquela que conhece ambas as artes e é capaz de se mover de uma para a outra com a maior facilidade possível. E exatamente como a inspiração e a expiração - não há dificuldade. Elas são opostas - quando vocês inspiram o ar, é um processo; quando expiram o processo é exatamente o oposto. No entanto, inspiração e expiração formam uma respiração completa.
    Na meditação, vocês inspiram; no amor, expiram. Com o amor e a meditação juntos, sua respiração estará completa, inteira, total.
    Durante séculos, as religiões tentaram atingir um pólo com a exclusão do outro. Existem religiões de meditação como, por exemplo, o jainismo e o budismo - são religiões meditativas, estão enraizadas na meditação. E existem religiões bhakti, religiões de devoção: o sufismo, o hassidismo - que estão enraizadas no amor. A religião baseada no amor precisa de Deus como o 'outro' a quem amar, a quem rezar. Sem um Deus, a religião de amor não consegue existir, é inconcebível - vocês precisam de um objeto de amor. Porém, uma religião de meditação consegue existir sem o conceito de Deus; essa hipótese pode ser descartada. Por isso o Budismo e o Jainismo não acreditam em Deus algum. Não há necessidade de um outro. A pessoa tem apenas que saber como ficar só, como permanecer silenciosa, como ficar quieta, como estar absolutamente calma e quieta dentro de si mesma. O outro tem que ser completamente abandonado, esquecido. Por isso, essas são religiões atéias.
    Quando pela primeira vez os teólogos ocidentais entraram em contato com as literaturas budistas e jainistas, eles ficaram bastante confusos: como chamar de religião a essas filosofias atéias? Poderiam ser chamadas de filosofias, mas como chamá-las de religião? Isso era inconcebível para os teólogos, pois as tradições judaico e cristã consideram que, para alguém ser religioso, Deus é a hipótese mais fundamental. A pessoa religiosa é aquela temente a Deus, mas os budistas e jainistas dizem que não existe Deus; Assim a questão de temer a Deus não existe.
     No Ocidente, durante milhares de anos, pensava-se que a pessoa que não acreditava em Deus era um ateu, não era uma pessoa religiosa. Mas Buda era ateu e religioso. Essa idéia soava muito estranha para os ocidentais porque eles nem sequer imaginavam que existiam religiões que tinha como base a meditação.
     E o mesmo é verdadeiro para os seguidores de Buda e Mahavira. Eles riem da tolice das outras religiões que acreditam em Deus, porque essa idéia como um todo é absurda. É apenas fantasia, imaginação, nada mais; é uma projeção. Mas para mim, ambas são, ao mesmo tempo, verdadeiras.
     Minha compreensão não está baseada em um único polo; minha compreensão é fluida. Eu saboreei a verdade de ambos os lados: eu amei totalmente e meditei totalmente. Esta é a minha experiência: a de que uma pessoa está completa só quando conhece os dois polos. Senão, ela é apenas uma metade; algo fica faltando nela.
     Buda é uma metade - Jesus também. Jesus conhecia o que é o amor, Buda conhecia o que é a meditação; mas, se eles se encontrassem, seriam impossível se comunicarem entre si. Um não compreenderia a linguagem do outro. Jesus falaria sobre o reino de Deus e Buda começaria a rir: 'Que absurdo é esse que você está dizendo? O reino de Deus?' Buda diria apenas: 'Cessação do eu, desaparecimento do eu'. E Jesus: 'Desaparecimento do eu? Cessação do eu? Isso é cometer suicídio, o suicídio máximo. Que espécie de religião é essa? Fale do Eu Supremo!'
      Um não entenderia as palavras do outro. Se alguma vez eles tivessem se encontrado, precisariam de um homem como eu como intérprete; caso contrário não haveria comunicação entre eles. Eu teria de interpretar de tal maneira que acabaria sendo infiel a ambos! Jesus falaria em 'reino de Deus', que eu traduziria por 'nirvana' - então Buda poderia entender. Buda diria 'nirvana' e, para Jesus, eu diria 'reino de Deus' - então ele poderia compreender.
      Agora a humanidade precisa de uma visão total. Nós já vivemos com visões parciais por muito tempo. Essa foi uma necessidade do passado, mas agora o homem amadureceu. Os meus sannyasins têm de provar que podem meditar e rezar ao mesmo tempo; que podem meditar e amar ao mesmo tempo; que podem estar tão silenciosos quanto possível e que podem celebrar e dançar tanto quanto possível. Seu silêncio tem de se tornar a sua celebração, e sua celebração tem que se tornar o seu silêncio. Eu lhes dei a tarefa mais difícil que já foi dada a um discípulo, porque esse é o encontro dos opostos.
      E nesse encontro, todos os outros opostos vão se fundir e tornar-se um: Oriente e Ocidente, homem e mulher, matéria e consciência, este mundo e o outro mundo, vida e morte. Todos os opostos vão se encontrar e fundir-se por meio desse encontro, pois essa é a polaridade máxima; ela contém todas as polaridades.
      Esse encontro criará um novo ser humano - Zorba, o Buda. Esse é o nome que eu dou ao novo homem. E cada um dos meus sannyasins precisa fazer todos os esforços possíveis para se transformar nessa liquidez, nesse fluxo, de modo que os dois polos façam parte deles.
      Assim, vocês terão sentido o gosto da totalidade. E conhecer a totalidade é o único meio para se conhecer o que é o sagrado. Não há outro meio"
OSHO, Autobiografia de um Místico Espiritualmente Incorreto
Copyright © 2006 OSHO INTERNATIONAL FOUNDATION, Suiça.
Todos os direitos reservados.

http://www.oshobrasil.com.br/texto_2.htm

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Certo dia, encontrei uma amiga que não via há muitos anos, mas por quem sempre guardei um carinho especial.
Começamos a colocar os assuntos em dia, a contar por onde andamos e o que fizemos ao longo de todos os anos sem notícias uma da outra.
Trilhamos caminho muito diferentes. Ela... após um relacionamento muito longo, foi embora para outro país e, de lá, rodou o mundo. Eu... me casei e passei todos esses anos vivenciando a experiência de me relacionar com outra pessoa.
Durante nossa conversa, ela me disse que não gostaria de se relacionar novamente até que se sentisse preparada para viver o tipo de relação na qual acredita. Pois, assim que iniciava um envolvimento "mais sério", ela começava a ter sentimentos e sensações desagradáveis, como ciúmes, insegurança. E quando se deparava com esses sentimentos, preferia acabar logo e permanecer sozinha até que estivesse preparada para não sentir mais tudo isso.
Segundo ela, em uma relação cada um deve ter liberdade de ser ele mesmo, liberdade de ir e vir e respeito pelas necessidades do outro.
Sim, eu também acredito que uma relação entre duas pessoas, seja qual for a natureza da relação, deve ser exatamente assim. O que eu não acredito é que você possa aprender sozinho o que você só encontra dentro de um relacionamento, sem viver e experienciar todas as sensações desagradáveis que ele traz consigo.
Um ser humano só consegue andar depois de cair algumas vezes, só aprende a falar depois de tentar muito.
Há prodígios em todas as áreas, mas eles são exceções.
Eu só aprendi a lidar com meu ciúmes depois de sentir muito ciúmes. Só aprendi a lidar com minha insegurança depois de sentir muita insegurança. Só aprendi a lidar com minha possessividade depois de ter sido muito possessiva. Somente depois vivenciar e experienciar cada um desses sentimentos, aprendi a lidar com eles.
O ciúmes, a possessividade, a insegurança ainda me visitam. Mas eu não tenho mais porque fugir. Eu observo, sinto, aprecio e, aos poucos, eles vão perdendo o vigor, enfraquecendo, se esvaindo...
Izamara Abreu


“Aquele que está desperto.sofre, portanto não há sofrimento.
Aquele que não está desperto foge do sofrimento, portanto há sofrimento.”
Sri Amma Bhagavan
tradução: Alessandra Calor

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Porque sofremos junto com os outros. Será por amor?


"Certa vez um amigo me chamou para conversar sobre seu filho. Estava muito preocupado com o rapaz que andava deprimido já havia um certo tempo.  O pai não sabia o que fazer, como ajudar, e sofria ao pensar na situação do filho. Falei que ele poderia recomendar ao filho um trabalho terapêutico que seria de grande ajuda, caso o rapaz aceitasse. Caso não aceitasse, não havia nada a ser feito, a não ser aguardar pacientemente.

 Dei uma outra recomendação importante. Que ele mesmo buscasse um trabalho terapêutico, para que ficasse em paz diante do sofrimento do filho, mesmo que o rapaz não quisesse ser ajudado. Falei que seria muito bom que ele ficasse bem, ainda que seu filho estivesse atravessando uma fase difícil.

 Nesse momento, ele me falou que tinha uma relação muito estreita como filho e que por gostar muito dele, não conseguiria vê-lo daquele jeito e ficar em paz ao mesmo tempo. Surgiu então uma crença muito comum: a crença de que quando alguém que nos amamos está sofrendo, temos que sofrer também e não podemos ficar em paz. Essa crença traz outras implicações, que são também crenças e pensamentos nos prendem ao sofrimento:

- Se eu fico em paz enquanto meu filho tem um problema sério, significa que não o amo

- Se eu estiver feliz enquanto ele tem um problema, isso significa que não me importo com ele.

- Se eu ficar em paz, não vou tomar nenhuma atitude para ajudá-lo.

- As pessoas só agem para ajudar alguém quando eles sofrem ao ver o outro sofrer

- Se elas não sofrem, é porque são pessoas frias e sem sentimentos

- É preciso sofrer junto com o outro para se importar e fazer algo por ele

- Não quero ser uma pessoa, fria, egoísta, ou insensível, por isso eu tenho que sofrer junto com ele

- Sinto culpa em estar feliz enquanto o outro sofre

- Ficar infeliz junto com o outro é uma forma de não sentir essa culpa

- Não sofrer junto com o outro é abandonar e trair o outro


 Expliquei que tudo isso são crenças extremamente comuns, as quais já vi se repetir em dezenas de atendimentos que fiz, que servem apenas para produzir mais infelicidade. Nosso sofrimento não ajuda ninguém. Pelo contrário, sempre acaba atrapalhando. Seja a nós mesmos, seja ao outro pois acabamos por se insistentes, preocupados demais e não respeitando o direito que ele tem de não buscar ajuda. Quando há sofrimento e insistência de nossa parte,  queremos que o outro mude logo, assim também acabaremos com o nosso sofrimento.  Parte dessa motivação em ajudar acaba sendo bastante egoísta.

 O que então pode nos impulsionar a ajudar os outros, se estamos plenamente felizes e  em paz? O amor nos impulsiona. Ponto. Não precisamos de nenhum tipo de sofrimento pra isso. O bebezinho nasce e nós sentimos um irresistível impulso de cuidar e ajudar. E quanto mais estamos felizes, melhores serão nossas atitudes e melhor será nossa ajuda.

 O ego nos convence que precisamos sofrer junto com o outro e com isso acabamos fazendo parte do problema. Quem está infeliz, está fazendo parte do problema. É como se quiséssemos ajudar alguém a sair de um buraco de uma maneira equivocada. Estamos fora do buraco, aí entramos dele e pedimos que a pessoa suba em nossos ombro para que ela possa sair. Por alguma razão, ela não tem forças e não consegue. Agora, são dois dentro do buraco. Continuamos a insistir, a pessoa sem forças não consegue e nós acabamos por ficar lá dentro com ela.

 Famílias inteiras entram dentro do buraco quando tem algum membro com um problema mais sério, principalmente em casos de depressão, vícios e outra questões emocionais graves. Os membros da família sempre querem que o familiar doente busque ajuda. Insistem, ficam com raiva, preocupados, tristes, e isso nunca tem o poder de convencer aquela que não quer ser ajudado.

 Os familiares ligam para o terapeuta (já recebi muitas ligações e emails assim) dizendo que o filho, ou a mãe precisa de ajuda urgente, e perguntam como é o trabalho, quanto custa, falam que vão pagar e etc.  Como não foi o próprio "precisado" que entrou em contato para buscar ajuda, já sinto que aquilo provavelmente não dará em nada.

 Não vou dizer que é impossível, mas é muito raro que alguém consiga encaminhar o outro que não quer ser ajudado. Podemos apenas sugerir e deixar que ele procure o caminho. Quando um adulto quer, ele mesmo liga e agenda. Em alguns casos, pode ser que peça pra alguém pra fazer isso por ele. Mas quando o desejo não parte da pessoa em dificuldades, ela não chega até o tratamento, ou então chega e rapidamente abandona.

 Quando recebo emails ou telefonemas nesse sentido e sinto o sofrimento de quem está querendo ajudar, costumo indicar que a própria pessoa que ligou faça um trabalho. E como se eu dissesse "você entrou dentro do buraco, é importante que você saia, até para gerar um equilíbrio maior a família". Quanto mais pessoas sofrendo, pior para aquela família; óbvio.

 A melhor forma de ajudar surge quando estamos e paz. Você olha alguém para dentro do buraco, e lá de cima, oferece sua mão para que a pessoa saia. Ela não consegue, aí você coloca uma escada e deixa lá a disposição. Mesmo assim, tem alguns que não sobem. E são muitas as razões inconscientes que levam alguém a agir dessa forma. Nem mesmo a própria pessoa sabe, nem enxerga que está se sabotando. Não passa pela lógica racional. Jamais conseguiremos entender plenamente o que se passa. É preciso que a própria pessoa acorde e tome a decisão de sair do buraco aceitando a ajuda oferecida.

 Quando tentamos convencer a todo custo, falando demais, brigando, insistindo, o efeito costuma ser o contrário e a tendência é que a pessoa se feche para ajuda cada vez mais. Estamos na verdade, em parte, querendo acabar com o nosso próprio sofrimento, pois precisamos que o outro mude para ficarmos em paz. Quando descobrimos que podemos ter a nossa paz interior independente do outro, surge o desapego. Não é desinteresse, e sim, desapego. Estaremos prontos para ajudar, mas sem aquela vibração de necessidade, medo, desespero e até raiva do outro durante a espera. Nesse estado não há também o sentimento de culpa em estar bem enquanto o outro está mal.

 Respeitar a decisão do outro (ainda que seja uma decisão inconsciente) de permanecer dentro do buraco é um ato de amor e consideração. Aguardar pacientemente, de forma desapegada, é também um ato de amor. Quando agimos dessa forma, nosso poder de influência se torna bem maior, por mais que pareça o contrário."

Andre Lima - www.eftbr.com.br